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Nos bastidores da ceia

  • 26/12/13
  • 09:00
  • Atualizado há 535 semanas

* Por Alcindo Garcia

Nada contra a ceia de Natal. Porém, não confundir Natal com comedeira e bebedeira. Imagine a cena, a parentalha reunida e um mais chumbado que o outro. Barulheira de pratos e travessas. A mulherada limpando as mãos no avental indo e voltando da cozinha. De repente um estouro. Todos se assustam. Foi o mais barulhento da família, vestindo a camiseta sem mangas do Corinthians, abrindo um Espumante Cerezer, imitando champanhe. A dona da casa repreendendo a empregada porque se esqueceu das taças de cristal. "Onde já se viu tomar "champanhe" em copo de geléia?"...

Em meio ao tumulto, o menorzinho, de oito anos, engata um berreiro. Escorregou numa coxinha de frango esquecida no piso encerado e patinou para debaixo da mesa. A mãe pega o garoto e assopra o dodói. A barulheira vai de choro de criança, corintiano berrando no celular, mulheres falando ao mesmo tempo, som do Roberto Carlos na televisão, além de um CD tocando jingles bells em alto volume. Travessas com peru Sadia, aquele que apita quando está no ponto.



Toca um celular com campainha brega. Alguém atende no meio da multidão e grita numa mistura de sons difícil de agüentar: "É o Geraldo mãe, ta ligando de Ribeirão Preto. Diz que só vem na passagem do ano". Outro telefonema, da prima Cotinha, de São Paulo, avisando que o carro ta na oficina e não tinha mais passagens na rodoviária. Por volta das quatro horas da madrugada a festa vai perdendo o entusiasmo pelo cansaço, até dar sinais de exaustão. O corintiano meio vesgo, arrotando espumante Cerezer, é proibido de dirigir por motivos óbvios. Um primo se oferece para ocupar o volante.

Começam as despedidas. Crianças dormindo no ombro dos pais. As mulheres trocando beijinhos. Só se ouve perguntas do tipo "cadê minha bolsa" ou "onde foi parar a minha bolsa?" "Alguém viu a minha bolsa"? Como mulher perde bolsa fácil! Todo mundo vai embora. Crianças da casa dormindo no sofá. Restaram o casal e a empregada Nanda. Exaustos, olham desolados para o mundo de pratos, travessas e talheres, sujos empilhados na pia. Vão ser lavados no dia seguinte porque ninguém é de ferro. Ano que vem tem mais.

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Por Alcindo Garcia é Jornalista. E-mail: [email protected]

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