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Soldados fanfarrões

José Benjamim

  • 28/04/16
  • 16:00
  • Atualizado há 416 semanas

"- E aquele elefante, na Índia, hein? Com que soco o senhor arrebentou o nariz dele!

- Nariz? - Desculpe, senhor. Eu quis dizer a tromba!

- Bah! Foi um soquinho de leve que eu dei. "

(Miles Gloriosus - Plauto)

Designado como miles gloriosus na cultura latina, a figura do soldado fanfarrão foi imortalizada pelo comediógrafo Plauto, no personagem-tipo Pirgopolinices, síntese dos vaidosos de autoestima inflada que se pavoneiam, propagandeando suas fantasiosas qualidades e feitos, valentias e proezas.

Bazófios, bravateiros, cascateiros, chibantes, farsantes, farsolas, farofeiros, faroleiros, gabarolas, gabolas, gargantas, gogós, pimpões, prosas, vaníloquos, são nomes que o povo dá a esse tipo humano presente em todas as épocas da humanidade. Mudam o ambiente, o tempo, os costumes, a sociedade, mas o soldado fanfarrão ou seus equivalentes sem farda são eternos, enquanto eterna for a espécie humana.

Embora na tradição essa figura típica tenha-se fixado no soldado que alardeia bravuras e feitos inexistentes, no campo de batalha, há muitos paisanos cujas bravatas e fanfarronadas civis nada perdem para o arquétipo original. No imaginário coletivo o miles gloriosus tende a ser geralmente visto como pessoa corpulenta, sanguínea, falante, tonitroante, falastrão tolo e arrogante que se autoelogia e se admira como um narciso protagonista de façanhas prodigiosas. Mas na vida real ou ficcional ser fanfarrão não é privilégio de gordos e grandalhões. Magros e miúdos também fazem o tipo, às vezes até melhor...

Figura com muitas variantes na literatura, o soldado fanfarrão, contudo, é inspirado na realidade. Pois o mundo está e sempre esteve abarrotado de fanfarrões reais, em sua maioria inofensivos, cujas lorotas apenas divertem, não sendo levadas a sério por ninguém. Barões de Munchhausen mais ou menos criativos, mas sempre contando vantagens, querendo ser melhores que os outros, autoproclamando sua excepcional inteligência, sabedoria, performance, esperteza, sedução ou coragem. Quem não conhece algum tipo semelhante, em seu entorno? É facilmente reconhecível, embora ele próprio jamais se reconheça como tal.

Os soldados fanfarrões nem sempre são inofensivos ou apenas divertidos, embora em sua grande maioria o sejam. Figuras de comédia, quando levados a sério podem tornar-se veículos de tragédia. Versão recente e de má lembrança que encarna esse tipo será talvez o fascista Mussolini com suas bravatas que tanto mal fizeram ao povo italiano e ao mundo. Hitler, apesar de ser a antítese física do tipo que a tradição consolidou, foi, à sua maneira, um soldado fanfarrão, talvez o mais trágico deles que a história tenha registrado. Heil Hitler! "As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha." "O Terceiro Reich durará mil anos!"

O Brasil é pródigo de fanfarrões. E não são apenas pescadores! Também, pudera, se até Deus é brasileiro... Além daqueles faroleiros da experiência pessoal de cada um de nós, lembremos em nossa história próxima de um político que se notabilizou até o cansaço pelo bordão: "Foi M... quem fez". E de um outro, ainda mais recente: "Nunca nesse país...". Soldados fanfarrões. Divertem. Mas, cuidado! Levados a sério, podem ser perigosos!

Por: José Benjamim de Lima

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