Buscar no site

Otílio, a vida dele é andar por este país...

"Ser caminhoneiro é mais que profissão:é paixão"

Colaboração: RadiAtiva FM 99,5: Marsy Pacheco

  • 23/07/16
  • 11:00
  • Atualizado há 403 semanas

Esta homenagem é para o paraguaçuense Otílio de Toledo Neto que estará representando toda esta classe trabalhadora que são os caminhoneiros. Eles efetuam muitas entregas, mas hoje somos nós que vamos entregar o nosso abraço e gratidão por todo dedicado e dinâmico trabalho que realizam, com esta simples homenagem. "Parabéns para aqueles que transportam o nosso pais. "

De Paraguaçu para os caminhos dos quatro cantos do Brasil

Otílio de Toledo Neto nasceu em 03/10/1951, filho de Agostinho Toledo (i.m.) e Aparecida Furio de Toledo, que ainda reside em nossa cidade. São suas irmãs a Maria Elizabete, Corina Margarete Toledo Gardim e Carmem Bernadete de Toledo. Otílio tem um filho, Vitor Mello de Toledo, e ambos residem no Mato Grosso. Porém, Otílio nos relata que sua casa é móvel, mora no norte, sul, no leste e oeste desse Brasilzão querido, onde existem rodovias maravilhosas, mas outras que nem podem ser chamadas de estradas, de terra, barro, e se existe asfalto são cheias de buracos imensos, verdadeiras crateras.

Segundo nosso caminhoneiro homenageado, são caminhos tortuosos, verdadeiros labirintos, repletos de muito perigos, mas a responsabilidade do transporte de materiais entre as diferentes regiões, serviço esse tão essencial, é a sua motivação. Vale a pena ver a grande satisfação das pessoas quando ele chega ao seu destino.

ENTREVISTA

Onde você estudou em Paraguaçu Paulista?

Otilio - Estudei o primário no Grupão "Coronel Antonio Nogueira", o ginásio no CENE e PENINHA.

Onde trabalhou em nossa cidade?

Otílio - Trabalhei algum tempo na Prefeitura, fazendo medições. Como eu jogava basquete para o time da cidade, o Sr. Orlandinho ajeitava alguns "bicos" para eu fazer, para conseguir alguma renda e poder jogar. O basquete foi minha grande paixão da adolescência e juventude.

Quais são suas melhores lembranças de Paraguaçu?

Otílio - Não me esqueço da época que eu praticava esportes, turma do futebol, basquete, do Tênis Clube. Era muita recreação, momentos inesquecíveis.

Por que foi embora de Paraguaçu?

Otilio - Saí em 1973. Decidi buscar novas oportunidades. Foi uma iniciativa do Dênis Maricato - irmos morar numas terras no Mato Grosso, em Corguinho, - e construirmos uma cooperativa, mas acabou não dando certo por motivos alheios a nossa vontade. Alguns foram e voltaram e somente eu fiquei, continuo em Corguinho (MT) até hoje.

Por que resolveu ficar, o que fez na cidade naquela época?

Otilio - Comprei uma serraria no Pantanal com meu cunhado, comecei a mexer com caminhão , tínhamos dois Chevrolet toureiro. Os negócios não se desenvolviam por causa do plano do governo daquele tempo, então comecei a lidar com transporte. Depois disso "entrou na veia" o sangue de aventura e trabalho pelas rodovias brasileiras transportando safras de grãos e materiais de construção.

Você gosta de viajar por todo país, por onde já andou?

Otílio - Conhecer meu pais é muito bom. Já fui a todas as capitais de estados, percorri todas as rodovias principais: BRs 101, 364, 116. 262, e já visitei muitos municípios Brasil afora.

Quantos caminhões já teve?

Otílio - Hoje, com mais de 35 anos de estradas, já passei por uns cinco caminhões. Atualmente tenho um Scania 142 H - ano 1986, com carreta baú 14,5 metros, de 100 cúbicos.

Qual foi sua melhor, pior e mais longa viagem?

Otílio - Umas das melhores viagens sempre foi ir para Recife, Fortaleza, Natal, Rio de Janeiro (gosto das praias) e também, São Paulo. Pior é aquela que você viaja sem dinheiro ou com problemas de chuvas e atoleiros. Na BR 364, quando não tinha asfalto, entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul (AC), era uma estrada que abria em junho e fechava em setembro, devido às chuvas. Às vezes ficava ilhado mais de 10 dias com a água mais de 2 metros acima da ponte, e tinha que esperar baixar. Era complicado! Uma das mais longas foi nessa mesma rodovia, estrada fechada em 30 setembro. Fiz uma viagem para a Companhia Elétrica Guasco, que fornece energia até hoje em Cruzeiro do Sul . Nessa viagem, que entrei em 16 novembro, estrada já fechada, no inverno amazônico, tive que ser puxado com máquina de esteira AD 14 Fiat, máquina grande. Foram 70 km de barro e lama, demorei 29 dias. Outra que fiz de 180 km de barro, mas total de 640 km num preço do frete de 15 mil no Acre, ninguém quis encarar a volta. Só de balsa de Cruzeiro do Sul (AC) para Manaus (AM) foram mais de 18 dias navegando pelo rio Jurua, depois Solimões, já perto de Manaus , o Rio Negro, são rios que formam a bacia amazônica.

Relate alguns fatos curiosos.

Otilio - São muitos: os costumes tradicionais no nosso país são diversos, especialmente na culinária, já comi de tudo. Atravessar balsas amarradas por cabo de aço nas laterais e você ter que passar sozinho altas horas tendo de balançar o caminhão, pra frente e pra trás, para balsa correr. Tem que puxar o cabo pra chegar do outro lado e amarrar a balsa. Uma loucura, muito perigo de cair na água.

Você deve ter tido também momentos tristes e felizes?

Otílio- Sim, vários. Casos tristes, que me marcaram muito, foram os acidentes. Você chega na hora, vê pessoas mortas, tem que socorrer feridos, fazer o possível e impossível pra ajudar. Ver a fome em muitos estados brasileiros, a prostituição de norte a sul, estradas ruins, pedágios caros, falta apoio, segurança. Presenciar colegas que só andam abusados com drogas e álcool, é muito triste. Todavia, tem os casos felizes. Porém, o melhor mesmo, é quando você pode passar um Natal e Ano Novo em casa, encontrar velhos amigos. De vez em quando passo em Paraguaçu onde tenho mãe e irmãs. No momento está fazendo dois anos que não visito minha terrinha. Mas, tenho planos de ir passear na Princesinha da Alta Sorocabana, abraçar meus familiares, encontrar a turma do basquete dos anos 70. São muitas e boas lembranças da minha juventude.

Quais são seus planos futuros?

Otílio - Tenho muitos sonhos, planejo viver uma vida mais sossegada, mais perto de familiares. Foi muito boa a vida de caminhoneiro, mas hoje em dia já não compensa. Quero parar com transportes, ninguém suporta mais tanta exploração no ramo do autônomo. Nunca fui empregado dos outros, sempre tive o meu caminhão. No momento, pegar fretes virou carona, preços baixos não cobrem as despesas, a frota brasileira está sucateada, muito velha. O governo não tem planos pro carreteiro autônomo, menos impostos e bons prazos. Falta sindicato honesto e forte pra lutar pela classe. Existe abuso de muitos, exigem muito e oferecem pouco. O carreto está defasado há muito tempo. Uma viagem pra Manaus, dez anos atrás, era 10.000 reais, hoje está o mesmo preço, e tudo mais aumentou. Roubam até pneu nas estradas, roubam a gente. Já cai em dois assaltos um em Goiás com uma máquina, mas Deus me tirou daquela situação . Outro foi na Bolívia, onde levaram o caminhão novo de um colega e ficamos no mato, eu e mais dois, a noite toda. Fomos liberados somente quando amanheceu. Já tombei o caminhão uma vez. Taxista tem tabela de cobrança, o caminhão tem oferta e procura. É muito imposto, o governo tem tabela pra cobrar imposto ICMS, frete, Ipva , pedágio, e outros. Só na Rodovia Castelo Branco, um caminhoneiro paga mais de 500 reais de pedágio.

O que mais deseja dizer?

Otilio - Para terminar, quero fazer mais um desabafo. Já estou começando a me preparar para parar, vou completar meus 65 anos no final do ano, num pais que tem mais apoio pra assassinos, ladrões e corruptos do que para gente honesta. Como dizem meus colegas caminhoneiros: "No Brasil é punido quem trabalha em todas as classes trabalhadoras, menos os políticos e altos empresários e administradores". O meu Brasil é lindo e rico, conheço todo o país e sei da vergonha desses corruptos. Mas, um dia todos prestaremos contas, aí quero ver como fica no tribunal de Deus. E meu lema sempre foi esse: "Quem não vive pra servir, não serve pra viver". Obrigado pela oportunidade, pela homenagem. E até qualquer dia amigos da minha terra. Abraços saudosos para minha mãe e irmãs.

Receba nossas notícias em primeira mão!

Mais lidas
Ver todas as notícias locais