Alojamento de anseios
Poesia por Raquel de Andrade
Quem um dia não pensou que tudo poderia ser diferente
olhando por estas janelas altas de grades tão pequenas?
Horóscopos e meteorologias fazem previsões analógicas
de um futuro tão indeterminado, que real ninguém encena
Vagam por todos os lados as perguntas que incomodam
Cada cômodo um êxtase oportuno de reencontros perdidos
No fundo do quintal a integridade da fala em superfície
O som da voz muda que umidece a face e corroe ouvidos
Seria esse um segundo que dura quase uma eternidade
Seria esse um amparo de vidas famintas e desabrigadas...
Seria esse um estupro de sentimentos, uma ânsia de adjetivos
A dilatação do corpo e da alma em desacordo com a madrugada
Do que vale soluções tão impostas se fatos já se contestam e se oprimem?
O que fazer com a confusãode palavras e pensamentos imperceptíveis?
Se, no ato roubaram a certeza do ontem, deixando dúbios para cada passo
Se sangra a poesia, no desencontro de sonhos que a pouco eram tão cabíveis...
É preferível então concluir o oposto do que esperam estes olhos mórbidos
Aceitar e usufruir o abstrato como uma infinidade de ausentes prazeres
Desnudar-me perante a solidão imbatível a tantas e tantas descrenças
Assistindo enfim aos devaneios que restarão no transcorrer destes mêses...