Bailar!

"Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu." Mt.17-5.

Olhando para o céu da manhã, vi nuvens brancas correndo, todas em direção ao mar! Mesmo na velocidade de cada uma, percebi formas passando, a mim se apresentando, tal como silhuetas a valsar! Ora humanas, ora animais, ora árvores, ora pássaros, se bem que os pássaros de verdade podiam de fato bailar. Num ir e vir provocante, como um manto deslumbrante, pairando sobre a cidade iam elas se encontrando nem mesmo pensando em voltar!

Percebi a distância que existe entre o aqui e o horizonte - norte-sul, leste-oeste, céu e terra, alto e baixo, olhar e ver ou nada enxergar, querer e poder, desistir ou fazer e até mesmo, de longe abraçar. Percebi a liberdade das nuvens, que com desenvoltura bailavam, numa corrida alucinante, como quem pretende chegar, mesmo que o objetivo seja lá um ponto distante.

Nessa falsa liberdade pensei: Chegar onde nem sei, se redemoinhos de ventos fortes, alteram a todo instante, em espirais galopantes, o porto de atracar? Queria perguntar para onde iam ou quando queriam chegar. Acho que de tanto meditar nem notei, que as nuvens antes brancas e alvas revestiram-se de cinza escuro, e num frenesi total bem puro, atropelavam-se umas as outras, fundindo-se par em par.

Dessa forma completaram-se assim, e depois de muito dançarem, como que orquestrando a chegada, precipitaram-se terra abaixo, sem nem mesmo saber de fato se era aquele o lugar do fim!