Buscar no site

A poesia é o mundo

COLUNISTA - José Benjamin de Lima

José Benjamim

  • 15/03/18
  • 16:00
  • Atualizado há 318 semanas

Dedicado para Mércia Vasconcellos

Em meio a tantos dias-homenagem, a poesia também tem o seu, 14 de março. É verdade que

atividades dessa natureza andam bastante em baixa, nesse mundo atual, cujos valores são

bem outros. Mesmo no passado, embora ocupasse um lugar mais confortável na tabela de

valores da humanidade, sua posição no ranking das coisas supostamente importantes nunca

foi no topo, nem mesmo na primeira metade superior da lista.

Não para os poetas. Estes fizeram da poesia a sua vida, o que é incompreensível para a grande

maioria dos bilhões de habitantes da terra, que fingem se ocupar de coisas mais sérias.

"Porque fiz eu dos sonhos / Minha única vida? - pergunta Fernando Pessoa, um tanto

perplexo, outro tanto deprimido.

"A poesia é o único real absoluto // Quanto mais poético, mais verdadeiro", escrevia NOVALIS

no século XIX, em plena Era Romântica. Que insanidade! - dizem até hoje (e mais ainda hoje)

as pessoas sedizentes sensatas . Pois se a poesia é pura imaginação, nada tem com a realidade, como pode ser o "único real absoluto"! Será? "Falo de coisas que existem. Deus me livre de inventar coisas quando estou cantando" defende-se, ironicamente, PABLO NERUDA.

Nosso poeta modernista, MURILO MENDES, de certo modo ecoando NOVALIS, deu-nos uma

preciosidade de poema intitulado "O Utopista": "Ele acredita que o chão é duro / [....> / Que há

limites para a poesia / Que não há sorrisos nas crianças / Nem amor nas mulheres / que só de

pão vive o homem [....>". Sim, diz-nos o poeta, com outras palavras, utopia é acreditar que as

coisas sejam aquilo que aparentam ser.

Como percebeu poeticamente (perdão pela tautologia) outro grande poeta, BERTOLT BRECHT: "Não acredites nos teus olhos / Nos teus ouvidos também não / Pode ser que haja luz / E só vês escuridão".

EZRA POUND, outro gigante do mundo da poesia, afirmou em um de seus escritos sobre

literatura: "os artistas são as antenas da raça". O mundo atual, infelizmente, escolheu as

antenas dos celulares, abrindo mão, cada vez mais dos artistas, cujas antenas ficam confinadas a uns poucos guetos que teimam em sobreviver.

Desde que Platão expulsou os poetas de sua República, o mundo nunca mais foi o mesmo. Mas

a poesia sobreviveu e sobreviverá, sempre, ainda que a duras penas, porque ela faz parte

daquilo que é genuinamente humano - a necessidade perene de ir além das aparências e do

que aí está, a necessidade de imaginar, de sonhar e de criar, pondo em palavras nunca ouvidas

antes a beleza e a riqueza da experiência humana.

Giuseppe Ungaretti, poeta italiano dos maiores que a humanidade já produziu, bem sintetizou

poeticamente a questão: "Poesia é o mundo / A humanidade / A própria vida / Florescida na

palavra".

Poesia é humanidade. Poesia é mundo. Viva a poesia!

Receba nossas notícias em primeira mão!

Veja também