Buscar no site

Como dizia o poeta II: uma história de amor

Niva Miguel

  • 27/04/18
  • 19:00
  • Atualizado há 312 semanas

O texto a seguir são compilações, trechos, da MPB, da Bossa Nova e de Sambas que vieram na mente no momento da criação, com algumas interferências. Creio eu, para dar sentido ao que eu me propus a fazer.

Cheguei cansado em casa do trabalho. Logo a vizinha me chamou. Tá fazendo meia hora. Que a sua mulher foi embora. E um bilhete deixou. Meu Deus, que horror. O bilhete assim dizia: "Não posso mais, eu quero é viver na orgia!".

Então, ele ficou sabendo de toda história...

Eu me lembro muito bem. Ela vivia no morro a sonhar. Com coisas que o morro não tem. Foi então. Que lá em cima apareceu. Alguém que lhe disse a sorrir. Que, descendo à cidade, ela iria subir. Se subiu. Ninguém sabe, ninguém viu. Pois hoje o seu nome mudou. E estranhos caminhos pisou. Só eu sei. Que tentando a subida desceu.

Depois disso...

Louco, pelas ruas ele andava. O coitado chorava. Transformou-se até num vagabundo. Louco, para ele a vida não valia nada. Para ele a mulher amada. Era seu mundo. Conselhos eu lhe dei. Para ele esquecer. Aquele falso amor. Ele se convenceu. Que ela nunca mereceu. Nem reparou. Sua grande dor. Que louco!

Período de sofrimento...

De noite eu rondo a cidade. A te procurar sem encontrar. No meio de olhares espio. Em todos os bares. Você não está. Volto pra casa abatido. Desencantado da vida. O sonho alegria me dá. Nele você está. Ah, se eu tivesse. Quem bem me quisesse. Esse alguém me diria: "Desiste, esta busca é inútil". Eu não desistia. Porém, com perfeita paciência. Sigo a te buscar. Hei de encontrar. Bebendo com outras mulheres-homens. Rolando um dadinho. Jogando um bilhar...

E as lembranças...

Por quanto tempo rondaram. As minhas noites vazias.... Eu hoje me embriagando. De whisky com guaraná. Ouvindo tua voz murmurando...

Mais sofrimento...

Eu fico com essa dor. Ou essa dor tem que morrer. A dor que nos ensina. E a vontade de não ter. Sofrer de mais que tudo. Nós precisamos aprender. Eu grito e me solto. Eu preciso aprender. Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser. Sigo enganado ou enganando meu viver. Pois quando estou amando é parecido com sofrer. Eu morro de amores. Eu preciso aprender.

E, com isso...

Sofri tanto a esperar. Que um dia você por fim. Talvez voltasse para mim. Mas me enganei, então eu vi. O longo tempo que perdi.

Até...

Chorei, não procurei esconder. Todos viram, fingiram. Pena de mim, não precisava. Ali onde eu chorei. Qualquer um chorava. Dar a volta por cima que eu dei. Quero ver quem dava. Um homem de moral não fica no chão. Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Por fim, chegou à conclusão que:

Eu amei alguém. Mas esse alguém. Não ama ninguém! No fundo é uma eterna criança. Que não soube amadurecer!

Mas, essa história começou assim...

Havia muito tempo que ele estava sozinho nesse mundo, porque tinha feito uma promessa e fez juras de levá-la até o fim. O compromisso assumido tinha a ver com as coisas do coração. Mas, com essas coisas não se pode ter certeza de nada, não é mesmo? Ainda mais quando se recebe a visita de um certo alguém.

Batidas na porta da frente. É o tempo. Eu bebo um pouquinho. Pra ter argumento. Mas fico sem jeito. Calado, ele ri. Ele zomba. Do quanto eu chorei. Porque sabe passar. E eu não sei. Num dia azul de verão. Sinto o vento. Há folhas no meu coração. É o tempo.

E pelo seu olhar, eu sei que ele está querendo me dizer coisas do coração. E, sinto que ele lê o meu pensamento.

Imediatamente eu...

Recordo de um amor que perdi. Ele ri. Diz que somos iguais. Se eu notei. Pois não sabe ficar. E eu também não sei. E gira em volta de mim. Sussurra que apaga os caminhos. Que amores terminam no escuro. Sozinhos. Respondo que ele aprisiona. Eu liberto. Que ele adormece as paixões. Eu desperto. E o tempo se rói. Com inveja de mim. Me vigia querendo aprender. Como eu morro de amor. Pra tentar reviver...

Sentindo o vacilo do tempo, ele responde...

Foi uma jura que eu fiz. De nunca mais amar. Ai, ai, ai meu Deus. Pra que que jurei? Todo mundo sabe. Quebrei minha jura, quebrei. Quando um coração que está cansado de sofrer. Encontra um coração também cansado de sofrer. É tempo de se pensar. Que o amor pode de repente chegar. Deixa esse novo amor chegar. Mesmo que depois seja imprescindível chorar.

E foi assim...

Numa estrada dessa vida. Eu te conheci. Oh flor! Vinhas tão desiludida. Malsucedida. Por um falso amor. Dei afeto e carinho. Amor também.

Então, no samba...

Lá vem a baiana. De saia rendada, sandália bordada. Vem me convidar para sambar. Mas eu não vou. Lá vem a baiana coberta de contas, pisando nas pontas. Achando que eu sou o seu ioiô. Também não vou. Lá vem a baiana. Mostrando os encantos, falando dos santos. Dizendo que é filha do Senhor do Bonfim. Mas, pra cima de mim? Pode jogar seu quebranto que eu não vou. Pode invocar o seu santo que eu não vou. Pode esperar sentada, baiana, que eu não vou. Não vou porque não posso resistir à tentação. Se ela sambar. Eu vou sofrer. Pois esse diabo sambando é mais mulher. E se eu deixar ela faz o que bem quer. Não vou, não vou, não vou. Nem amarrado porque eu sei. Se ela sambar...Hum hum hum hum hum hummm...

Mas, eu fui, e o nosso primeiro encontro aconteceu desta forma...

Eu, você, nós dois. Aqui neste terraço à beira-mar. O sol já vai caindo e o seu olhar. Parece acompanhar a cor do mar. Você tem que ir embora. A tarde cai. Em cores se desfaz, escureceu. O sol caiu no mar. E aquela luz. Lá em baixo se acendeu. Você e eu. Eu, você, nós dois. Sozinhos neste bar à meia-luz. E uma grande lua saiu do mar. Parece que este bar já vai fechar. E há sempre uma canção. Para contar. Aquela velha história. De um desejo. Que todas as canções. Tem pra contar. E veio aquele beijo. Aquele beijo.

Lembro-me de uma bela noite.

É tarde da noite, ela está querendo saber qual roupa usar. E então ela me perguntou: "eu estou bonita?". E eu digo sim, você está maravilhosa. A noite é de festa. E ela veste o luar. Me arrasta e me testa. Se sente uma superstar. E então pergunta se eu estou em paz. E eu digo sim: eu me sinto maravilhoso hoje à noite. Eu me sinto maravilhoso porque eu vejo. A luz do amor em seus olhos. E quer saber tudo disso. Que você apenas não imagina o quanto eu te amo. De volta para casa. Cansados de festejar. Me deita e me abraça. Me beija e não quer falar. E então eu digo a ela, enquanto eu apago as luzes. Querida, estavas linda até demais. Eu digo minha querida estava maravilhosa hoje à noite.

Declaração...

Eu, você o céu azul e um violão. Muita calma pra pensar. Você e eu. Dia e noite. Noite e dia. Não sei porque precisar de você. Segue por onde eu vou. O meu pobre coração. Não aguenta mais a solidão. Eu sem você. Dia e noite. Com você. Tudo mudou pra mim. Sem você. Vão morrer de sede as rosas do meu jardim. O tormento vai passar. Se você quiser. Viver de amor. Até o fim...

Eu sou teu olho no meu. Tua cor na minha cor. Teu sonho mirando o céu. No céu azul desse amor. O amor que pedi a Deus. Com tudo que sempre quis. Imensamente feliz. Marília, ilha e Dirceu. Eu vejo o nosso amor assim. Um sonho só, um sol sem fim. Onde nada se perdeu. Onde eu sou você, onde você sou eu. O amor é vida em comum. Deus queira, até o final. É singular no plural. A soma de dois é um. É impar quando é par. Sem adiar amanhã. É tudo por que lutar. Sabendo que a vida é vã.

Por onde for quero ser o seu par!

Mudança nos ventos

Mas, com o passar do tempo, o amor foi enfraquecendo. E chegou um momento quê... Eu desconfio. Que o nosso caso. Está na hora de acabar. Há um adeus em cada gesto. Em cada olhar. E nós não temos. Nem coragem de falar. Nós já tivemos. A nossa fase. De carinho apaixonado. De fazer versos. De viver sempre abraçados. Naquela base. Do só vou, se você for... Mas de repente. Fomos ficando. Cada dia mais sozinhos. Embora juntos. Cada qual tem seu caminho. E já não temos. Nem vontade de brigar. Tenho pensado. E Deus permita. Que eu esteja errado. Mas eu estou desconfiado. Que o nosso caso. Está na hora de acabar... Eu desconfio!

Olha, você vai embora. Não me quer agora. Promete voltar. Hoje você faz pirraça. Até acha graça se me vê chorar. A vida acaba um pouco todo dia. Eu sei e você finge não saber. E pode ser que quando você volte. Já seja um pouco tarde pra viver. Olha o tempo passando. Você me perdendo com medo de amar. Olha, se fico sozinho. Acabo cansando de tanto esperar.

Até quê...

Um dia. Encontrei Rosa Maria. Na beira da praia a soluçar. Eu perguntei o que aconteceu. Rosa Maria me respondeu. O nosso amor morreu. Será que ela tem outra amizade?

Agora...

Os olhos da cobra verde. Hoje foi que arreparei. Se arreparasse a mais tempo. Não amava quem amei. E se não tivesse o amor. E senão tivesse essa dor. E se não tivesse o sofrer. E se não tivesse o chorar. Eu não quero mais amar. Pra não sofrer ingratidão. Depois do que eu passei. Fechei a porta do meu coração. Eu dei a ela todo carinho. E, no entanto, acabei sozinho!

Receba nossas notícias em primeira mão!

Veja também