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Os mitos e os homens

COLUNISTA - José Benjamim

José Benjamim

  • 25/10/18
  • 18:00
  • Atualizado há 282 semanas

Por - José Benjamim

"[....> o entendimento acha o que há, a vontade

acha o que quer" (Padre Viera - Sermão da Segunda Dominga

do Advento)



Na iminência do desastre anunciado, a escolha entre o muito ruim e o péssimo, vem-me à mente o antropólogo Lévy-Strauss, quando, nos seus estudos de mitologia, pretendeu mostrar não "como os homens pensam nos mitos, mas como os mitos se pensam nos homens, e à sua revelia". O povo brasileiro está sendo joguete de dois mitos extremados, igualmente ruins, os quais se sobrepuseram ao entendimento e passaram a guiá-lo cegamente, tão apenas pelo sentido da vontade - vontade dos mitos, não vontade da razão.

O mito da esquerda na sua versão lulopetista hegemônica fez da fraude e da empulhação demagógico-ideológica sua arma de combate. Feroz, intolerante e soberbo, seu discurso esquizofrênico aniquilou qualquer possibilidade de sobrevivência de um pensamento de esquerda autêntico, construtivo e democrático. A aliança do esquerdismo falso com a corrupção e as oligarquias políticas e empresariais deu no que deu: o desmanche dos valores e das instituições, a ruína econômica e moral do país.

O desastre do esquerdismo lulopetista propiciou o surgimento de uma direita forte, mas com um viés claramente nocivo à civilidade: abertamente avessa ao jogo democrático, ao diálogo e à tolerância ao pensamento divergente. Essa direita truculenta é a contraface da esquerda lulopetista intransigente, ambas, igualmente, joguetes de seus próprios e equivocados mitos. A face mais visível e superficial dessa direita aponta para retrocessos preocupantes em nossa frágil democracia, especialmente porque ela não parece saber dizer a que veio. Por ora, é apenas um não truculento e assustador que nada tem de construtivo - não à demagogia lulopetista. Seu propalado liberalismo ou neoliberalismo em economia, associado a moralismo puritano nos costumes e na educação e ao nacionalismo e estatismo verde-oliva mais parece o samba do crioulo doido. Aguardam-se muitas brigas nesse casamento insólito, se, afinal, vier o candidato representante dessa corrente a se eleger, como indicam as previsões.

Registra a história que o filósofo francês Renée Descartes, antes de morrer, manifestou o desejo de que em seu túmulo fosse inscrita a frase "aquele que se escondeu bem viveu bem". O filósofo viveu em uma época terrível, em que católicos e protestantes se matavam em nome de Deus, pensadores independentes eram perseguidos e a intolerância grassava pela Europa. Ele próprio teve de fugir de sua terra e foi refugiar-se na Holanda e na Suécia, países que na época eram mais tolerantes com os filósofos.

"Aquele que se escondeu bem viveu bem". Em tempos sombrios talvez essa seja uma boa opção. Recolher-se e esperar que a onda passe. "Quem não pode andar certo, ande de esguelha" dizia o Bastardo, na "Vida e Morte do Rei João", de Shakespeare. Sobreviveremos, como Gloria Gaynor na famosa canção, até conseguirmos controlar os mitos, antes de sermos vítimas deles. Haveremos de ser felizes de novo...([email protected])

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