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Memórias póstumas

Preste atenção em seus amigos, parentes, pessoas próximas. Pode não parecer, mas talvez elas estejam precisando de ajuda.

Kallil Dib

  • 11/02/19
  • 17:00
  • Atualizado há 270 semanas

Comecei a ver cores distantes de mim. Meu mundo já não era como em outras épocas. Há algum tempo eu celebrava. Dava bom dia a meus vizinhos, tomava cedo o café na padaria, ficava até tarde da noite conversando com meus pensamentos. As cores, todas elas, faziam parte de meu universo. Meus sorrisos, sinceros e amarelos, eram fiéis à minha rotina e se mostravam todo tempo. Um jardim inteiro se aflorava em mim.

Mas as flores murcham, elas morrem.

De tanto festejar, fiquei para trás. Minha rotina se cansou. Amigos que eu na verdade nunca tive se distanciaram por motivos que jamais vou entender. Certa vez faltei da festa, outra vez fui embora mais cedo e aquela outra me embriaguei sozinho. Quando me vi, cansei.

Nunca me apeguei a alguma religião. Respeitei os santos, orixás, a qualquer Deus que o humano acredita e questionei aqueles que colocam a ciência acima de todo este propósito. Sei que não foi esse o motivo de eu ter chegado a meu limite.

Quando fui mandado embora do emprego que pagava as minhas contas, me apeguei a um gole de cerveja a cada hora do dia. Me recusei a levantar da cama e procurar outro trabalho. Apenas enxergava que eu era o problema dessa hipócrita sociedade.

Parentes próximos se foram. Alguns mudaram de cidade, outros se despediram desse plano. E me vi sozinho, em uma casa com cômodos bagunçados, louça do mês passado, contas atrasadas e uma profunda tristeza em cada metro quadrado. O fundo do poço, como dizem, chegou.

Uma luz à minha frente se abriu. Decidi pôr um fim a esse lastimável estado de solidão. Um profissional poderia me ajudar. Psicólogo, Psiquiatra, ou um andarilho na rua, certamente ouviria minhas lástimas. Mas nas unidades de saúde do município não havia médicos. Uma consulta particular a 300 reais para alguém sem dinheiro para o almoço, não seria possível.

O fundo do poço se fechou.

Na minha casa, o lençol serviu para o caminho sem volta: o maior pecado que cometi nessa minha inútil existência de 21 anos.

As flores murcharam, elas morreram.

Precisamos falar sobre a depressão

A depressão é um distúrbio afetivo que gera uma tristeza profunda, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que podem acabar em pensamentos suicidas. Por isso, ela precisa de um acompanhamento médico, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado.

A depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas de todas as idades no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a estimativa é que 5,8% da população seja afetada pela doença. Em nosso país existe o CVV - Centro de Valorização da Vida, que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo 24 horas todos os dias, basta discar o número 188.

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