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Ao lado do pai, criança de 7 anos é flagrada dirigindo carro na região

O garoto era orientado pelo genitor, que segurava uma garrafa de uísque e até filmava o percurso; o homem foi autuado, mas responde em liberdade

JCNet

  • 16/04/19
  • 11:00
  • Atualizado há 258 semanas

"É um velhinho no corpo de uma criança". Desta forma, o pai de um garoto de 7 anos teria justificado à polícia o fato de a criança estar dirigindo o seu veículo, um Honda/Civic, pela rodovia Marechal Rondon (SP-300), em Bauru. O caso absurdo ocorreu na madrugada de ontem. O homem, de 31 anos, que aparentava estar embriagado, chegou até a filmar o percurso. Ele foi autuado por permitir direção de veículo automotor a pessoa não habilitada e responde em liberdade. Os nomes não serão divulgados, em respeito ao ECA, para não identificar a criança.

A reportagem conversou com a mãe do garoto, que disse que esta não seria a primeira vez que o menino conduziria um veículo na companhia do pai (leia mais abaixo).

O fato ocorreu por volta da 1h30 de ontem, quando a Polícia Militar Rodoviária realizava fiscalização próximo à Base, situada na altura do quilômetro 338 da Rondon. Os policiais deram sinal de parada para um Honda/Civic, cinza, com placas de Bauru. O veículo, no entanto, não parou e acabou acompanhado.

"Um dos policiais até pulou para não ser atropelado. A abordagem foi acontecer somente próximo ao trevo da Eny (que dá acesso à rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, a Bauru-Ipaussu). Ao se aproximarem do carro, os policiais estranharam o tamanho do condutor e, ao chegarem perto, constataram que se tratava de uma criança de apenas 7 anos", conta o tenente Gabriel Eleutério, que é comandante da 1.ª Companhia do 2.º Batalhão de Polícia Rodoviária de Bauru. "O pai do menino seguia como passageiro ao lado. Ele apresentava estado de embriaguez e segurava uma garrafa de uísque. Colocou a criança para dirigir porque estava sem condições", detalha o policial.

NERVOSO

Assustado, o garoto teria chorado durante a bordagem. Ainda de acordo com a Polícia Rodoviária, no celular do homem, havia um vídeo no qual aparecia o menino dirigindo, sob a sua orientação. A ideia de desobedecer o sinal de parada da polícia, inclusive, teria partido do próprio pai. "Acelera, acelera", dizia o homem para a criança.

A corporação acionou a mãe do garoto, que é separada do homem há 5 anos.

Ela teria chegado à base extremamente nervosa e de carona com uma amiga da família. Contou aos policiais que o pai conquistou, na Justiça, o direito de visitar a criança e a pegou na manhã de domingo. O homem mora em um motel, em Bauru, e ficou de devolvê-la no final da tarde do mesmo dia, mas desapareceu.

No local, ela relatou ainda que o filho falta à escola toda vez que fica com o pai e que o garoto vem enfrentando problemas de aprendizagem.

O menino foi entregue à mulher, que foi orientada a registrar um boletim de ocorrência (BO) e a procurar pela Defensoria Pública.

AUTUAÇÃO

Já o homem foi autuado administrativamente por confiar direção a uma pessoa não habilitada, por não obedecer a ordem de parada obrigatória, por licenciamento vencido e por má conservação do carro, uma vez que o veículo apresentava problemas envolvendo os para-brisas e pneus.

A apresentação dele na delegacia foi dispensada, já que o crime que foi registrado no boletim de ocorrência é o previsto no artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro e não prevê prisão em flagrante, além de ser considerado de menor potencial ofensivo.

"Entregar o veículo automotor a pessoa não habilitada é um crime com pena de 6 meses a um ano de prisão, portanto, de menor potencial ofensivo e respondido em liberdade. O delegado plantonista entendeu que o crime foi este. E, como as partes não foram apresentadas na delegacia, o boletim de ocorrência foi registrado com base nas informações dos policiais rodoviários", cita o delegado seccional de Bauru, Ricardo Martines. "Mas um procedimento investigatório é instaurado posteriormente", completa.

O Civic foi apreendido. Segundo a Polícia Rodoviária, o homem já foi preso por tráfico de drogas e respondeu por violência doméstica.

'Eu poderia estar enterrando o meu filho hoje'

Mãe do garoto de 7 anos, a segurança de 35 anos estava no Plantão Policial, na tarde dessa segunda-feira (15), para tentar registrar um boletim de ocorrência contra o ex-marido e conseguir informações sobre como obter medida protetiva. "Eu poderia estar enterrando meu filho hoje (segunda-15). Ele (ex) ficou em uma chácara bebendo o dia todo e deu o carro na mão do menino, que é só uma criança e ainda devia estar morrendo de sono. Eu fui ameaçada o final de semana todo porque ele queria pegar o garoto. E só conseguiu pegá-lo no domingo porque meu filho não aguentava mais a situação, e me pediu para ir com ele", diz a mulher, aos prantos, afirmando que o ex-marido tem problemas com álcool e drogas.

Ela conta ainda que o vício teria piorado depois que avó do garoto, mãe do acusado, morreu há sete meses. "Ela que cuidava dele, mas morreu e meu ex parece ter perdido a cabeça. Soube que está morando em um motel. Meu filho disse que já dirigiu outras vezes, eu quase infartei! Ele também está assustado, mas gosta do pai, tem pena e se preocupa. Meu filho tem que brincar e estudar, não dirigir. A verdade é que era para esse homem estar preso, porque ele poderia ter matado uma criança e outras pessoas. Só tenho a agradecer aos policiais", acrescenta a mulher.

Ela foi orientada a procurar a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e disse que denunciaria o ex-marido à Justiça.

'Em 15 anos de polícia, nunca vi um caso assim'

O caso em questão chamou a atenção de policiais que atuam não só nas rodovias como na zona urbana de Bauru, dada a pouca idade do garoto e irresponsabilidade do pai. "Eu nunca vi isso em 15 anos de corporação. A situação poderia ter gerado uma tragédia", frisa o tenente Gabriel Eleutério, comandante da 1.ª companhia do 2.º BPRV.

Comandante do Pelotão de Trânsito da PM, que atua em área urbana, o tenente José Sérgio de Souza diz já ter presenciado flagrante de adolescentes de 16 e 17 anos conduzindo veículos na cidade. "Mas uma criança de 7 anos nunca, acho que ela nem alcançaria o pedal direito".

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