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Meu voto vai para....

Niva Miguel

  • 22/09/14
  • 09:00
  • Atualizado há 499 semanas

Qual é o Brasil que você quer? Aqueleem que você ganha dinheiro, adquire bens e mais bens, que não precisa pagar supostos impostos elevados, salários dignos para os seus funcionários, que seus filhos e netos estudem ou estudarão em universidades públicas ou privadas de qualidade -isto é, quanto mais dinheiro você tem, mais você quer ganhar e o pobre que fique pior do que já está -,ou você quer um país no qual todos os seus habitantes sejam verdadeiramente cidadãos, que tenham oportunidades iguais eque a Justiça não seja uma "Casa Grande", entre outras coisas.

Em breve teremos a oportunidade, nossa principal via, para dar a nossa contribuição para que o país consiga avançar naquilo que acreditamos ser o melhor para todos -a igualdade nos direitos e deveres.Não estamos falando em paraíso, ele não existe, todos sabem, mas em transformá-lo em uma Nação de verdade.

O voto é o nosso principal instrumento democrático, voz que pode ajudar na transformação deste país. Por isso, é importante estarmos atentos no horário eleitoral e ouvir com atenção o que os partidos e seus candidatos estão colocandocomo prioridadesnas suas propostas para a nação. Sugiro que olhe para você e que tenha a humildade de também olhar ao redor e pensar em milhões de habitantes do nosso Brasil que também têm direito a uma fatia maior desse bolo, mas quenem de longe conseguem saber qual é o sabor desse tão desejado e saboroso prato.

Brasil, mostra sua cara

É claro que a maioria da população brasileira não conhece a história do nosso país, nossa formação, nosso caminhar e porque somos o que somos. O Brasil de hoje não permite que você o analise somente com o que está acontecendo agora, é importante lembrar que já fomos colônia e monarquia, e hoje somos República. Mas, uma República que tem sido oligárquica e populista, militar e civil, tirana e democrática. E, no capitalismo, somos uma província do globalismo.

E é neste contexto que está inserida a questão racial, ignorada pelos governantes e pela sociedade brasileira como um todo. O conhecimento desta complexidadepode alavancar um grande impulso para uma transformação no viver político, econômico, social, cultural e educacional do nosso país.

Hoje temos no Brasil partidos que dizem ser da direita, adversos às mudançase, portanto, conservadores; de esquerda, com propostas socialistas de mudanças e igualdade, entre outras coisas; centro direita, centro esquerda e, sabe Deus mais o quê. Na verdade, todas essas ideias e propostas apresentadas nos entediam, porque conhecemos o andar da carruagem. Mais que isso, sabemos para quem eles estão falando e para quem eles pretendem governar.

A comunidade negra brasileira, que é a maioria nesse país, está atenta à fala de todos os candidatos e até agora não ouvimos, e creio que não ouviremos, nenhuma referência sobre essa questão. Queríamos ouvir de algum candidato questionamentos como, por exemplo, porque a polícia mata tantos negros nesse país? Porque a grande mídia trata casos de racismo como espetáculo, caso do Aranha, goleiro do Santos, e não aproveita a situação para provocar um debate com a população brasileira sobre o assunto? Porque os negros são a minoria em cargos nos trabalhos considerados relevantes pela sociedade? Porque o negro ainda continua invisível neste país?

É verdade que existem algumas iniciativas neste sentido,que a comunidade considera como paliativas do ponto de vista da concepção de políticas públicas e ações afirmativas, mas é preciso avançar. E sabe por quê?

Porque somos nós, os negros, que seguramoseste paísnos braços, com a nossa força de trabalho, há mais de 500 anos. Nossos antepassados foram humilhados, coisificados, desumanizados, entre outras coisas, pela escravidão. O Brasil de hojecontinua a nos escravizar à medida que continuamos a segurar este país no braço. Somos nós, os negros, que pagamos mais impostos neste país.

Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), 68,06%, negros e 31,94%, brancos compõem 10% da população mais pobre deste país, sendo que 45,66% são homens e 54,34% são mulheres. Já do outro lado, entre os 10% mais ricos, que pagam menos impostos,há 83,72% de brancos e 16,28% de negros. Neste contexto, 62,05% são homens e 31,05%, mulheres. O que isso quer dizer:"Não há dúvida de que a mulher negra é a mais punida pelo sistema tributário brasileiro, enquanto o homem branco é o mais favorecido", diz o autor do estudo, Evilásio Salvador. Para ele, é falsa a ideia de que a tributação brasileira é neutra em relação à raça e gênero. "Como a base da pirâmide social é composta por negros e mulheres, a elevada carga tributária onera fortemente esse segmento da população".

Por isso, é importante essa reflexão, a questão do preconceito e do racismo no debate político e na sociedade brasileira. Entende-se que, enquanto não houver entendimento sobre essa questão,não será possível direcionar um caminhar seguro para a nossa Nação.

É preciso instalar uma nova ordem social. Essa nova ordem social terá a cara do Brasil.

* Por Niva Miguel é jornalista, professor,

membro do Instituto Zimbauê

e autor do livro "Além da Notícia".

[email protected]

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