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Casal homoafetivo que fez inseminação caseira festeja nascimento da filha no interior de SP

Regente da banda municipal de Echaporã (SP) e companheira aderiram ao método feito em casa para realizar sonho, que se concretizou na última terça-feira (13). Aurora nasceu com 2,7 quilos e 47 cm.

G1

  • 19/10/20
  • 17:00
  • Atualizado há 179 semanas

Pouco mais de 37 semanas após a realização de uma inseminação caseira feita no fim de janeiro de deste ano, o casal homoafetivo de Echaporã (SP) formado pela regente da banda municipal Nívea dos Santos, de 40 anos, e pela servidora pública Vitória Balmant, de 25, festejou a chegada de Aurora.

O nascimento da menina, que, segundo o casal, chega para completar a família, aconteceu na última terça-feira (13), em um hospital particular de Marília (SP), através de uma cesariana. Aurora nasceu com 2,7 quilos e 47 centímetros. Mãe e filha passam bem.

"O plano inicial era ser parto normal, mas, quando chegamos ao hospital, a obstetra disse que a Vitória sentia muita dor, mas não dilatava. Eu assisti ao parto, mas antes derrubei uns quatro copos de água de tão nervosa que eu estava. Quando a Aurora nasceu, chorando, eu falei: 'oi, filha!'. E ela parou de chorar, acho que reconheceu minha voz. Linda, Linda", relata a regente.

Divulgação - A regente Nívea dos Santos e servidora pública Vitória Balmant, de Echaporã (SP), com a filha Aurora — Foto: Arquivo pessoal
A regente Nívea dos Santos e servidora pública Vitória Balmant, de Echaporã (SP), com a filha Aurora — Foto: Arquivo pessoal

Segundo Nívea, assim que a família voltou para Echaporã após a alta hospitalar, o irmão dela, que foi o doador do sêmen no processo de inseminação, saiu do Paraná, onde cursa engenharia elétrica, para conhecer a sobrinha.

"A família está transbordando de felicidade. Meu irmão já veio visitar a sobrinha, as avós estão babando com a Aurora, e meus alunos encheram minhas redes sociais para me felicitar depois que apresentei nossa filha", diz Nívea sobre a repercussão do fato na cidade de pouco mais de 6 mil habitantes.

A regente explica que, por enquanto, Aurora foi registrada apenas no nome da mãe, mas já com seu sobrenome, pois Vitória o adotou quando elas se casaram, há seis anos. Antes mesmo do nascimento da menina, Nívea entrou na Justiça com pedido de filiação para poder registrá-la como filha do casal.

Decisão pela inseminação caseira

Casadas há seis anos, Nívea e Vitória alimentavam o sonho de completar a família com um filho. Ao G1, elas afirmaram que chegaram a pesquisar sobre inseminação artificial, mas se depararam com custos de até R$ 15 mil.

Foi quando souberam da inseminação caseira e decidiram aderir ao método, que envolve a coleta do sêmen de um doador e sua inseminação imediata com seringa ou outros instrumentos. O procedimento ainda não é regulamentado pelo Ministério da Saúde e nem aconselhado pela Anvisa.

O irmão caçula de Nívea aceitou ser o doador do sêmen, que foi introduzido no corpo da cunhada. Eles iniciaram um processo de repetidos exames e check-ups médicos e, depois de duas tentativas com controle de menstruação e testes de ovulação, Vitória engravidou.

Divulgação - Aurora nasceu no último dia 13 de outubro, após cesariana realizada em hospital particular de Marília — Foto: Arquivo pessoal
Aurora nasceu no último dia 13 de outubro, após cesariana realizada em hospital particular de Marília — Foto: Arquivo pessoal

O estudante de engenharia elétrica Artur Henrique dos Santos Pontes, de 20 anos, garante que não hesitou em participar do sonho da irmã e da cunhada assim que recebeu a proposta. Ele disse que não teme no futuro "sentir-se pai" da menina.

"Elas queriam muito e eu pensei: por que não? Vai ser sangue do sangue. Falei com minha mãe, ela super apoiou também. E daí já fui com o pensamento de que vou ser o tio da criança. É muito legal participar de um projeto tão corajoso como esse, elas merecem", disse o estudante.

Divulgação - Artur Henrique, irmão de Nívea e doador do sêmen para a inseminação, durante visita à família — Foto: Arquivo pessoal
Artur Henrique, irmão de Nívea e doador do sêmen para a inseminação, durante visita à família — Foto: Arquivo pessoal

'Menina sortuda'

Nívea contou ao G1 que não se preocupa com eventuais comentários sobre o fato da filha não ter um pai.

A regente, que também é multi-instrumentista e professora de música para crianças e jovens da rede municipal de Echaporã, lembra que ela mesma cresceu sem a figura do pai, que morreu cedo. A avó, diz Nívea, assumiu esse papel e participou de forma ativa, e participativa, de sua criação.

"Eu não tive pai e via esse pai na minha avó, que foi quem me criou. Na festa do Dia dos Pais na escola, era ela quem ia comigo e eu pretendo fazer a mesma coisa com a Aurora. Prefiro enxergar nossa filha como muito sortuda, porque terá duas mães", diz Nívea.

Sobre eventuais resistências ou comentários da sociedade sobre a decisão do casal, a regente diz que está tranquila, pois já conquistou o respeito da comunidade por sua orientação sexual.

"Descobri minha sexualidade muito cedo e vim construindo minha vida com naturalidade. Todos me respeitam muito e me apoiam na banda, formada com princípios da diversidade e por crianças e jovens de famílias católicas e evangélicas, que nos ajudam bastante. Não me preocupo com o que algumas pessoas podem dizer. O que vale é a felicidade e o bem-estar da minha família", diz Nívea.

Inseminação em casa

Consultado, o Ministério da Saúde informa que não dispõe de regulamentação para este procedimento, mas ressalta que o SUS disponibiliza, em alguns de seus serviços, a reprodução humana assistida, incluindo a fertilização in vitro.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, em nota, que não aprova tal procedimento e alerta que, por ser feito em ambientes domésticos e sem assistência de um profissional de saúde, oferece riscos que incluem a transmissão de doenças como hepatite, sífilis, HIV, entre outros.

A Anvisa diz ainda que, como são atividades feitas fora de um serviço de saúde e o sêmen utilizado não provém de um banco de espermas, as vigilâncias sanitárias e a Anvisa não têm poder de fiscalização.

Segundo a Anvisa, apesar de ser uma escolha individual e não regulada, é importante que as pessoas que estão cogitando esse tipo de procedimento para engravidar avaliem o risco e conversem com um profissional médico especializado em reprodução humana.

No Brasil, é proibido todo tipo de comercialização de material biológico humano, de acordo com o artigo 199 da Constituição Federal de 1988.

Toda doação de substâncias ou partes do corpo humano, tais como sangue, órgãos, tecidos, assim como o esperma, deve ser realizada de forma voluntária e altruísta.

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