Médica faz desabafo horas antes de paciente com Covid ser transferido por falta de leito em Marília: 'Pessoas vão morrer'
Mesmo depois de rebaixada para a fase laranja, cidade tem registrado aglomerações.
O desabafo de uma médica de Marília (SP) sobre a situação preocupante do coronavírus na cidade está repercutindo nas redes sociais. Até a manhã desta segunda-feira (11), a postagem de Ana Carolina Amaral tinha mais de 1,5 mil compartilhamentos no Facebook.
A publicação ocorreu horas antes da cidade atingir 100% de ocupação nos leitos de UTI para Covid neste sábado (9). Pela primeira vez na pandemia, a prefeitura precisou transferir para outro município um mariliense diagnosticado com Covid por falta de vagas nos hospitais locais.
Na noite do mesmo dia, a prefeitura e a Polícia Militar interromperam uma festa com cerca de 200 pessoas que estava sendo realizada em uma chácara de Marília.
"Pessoas inconsequentes, egoístas, prepotentes [...> Entendo o momento em que todos estamos saturados e enfadados de isolamento, porém, nossa cidade vive um momento crítico. Não temos leito. Pessoas vão morrer sem ter expectativas e esperanças de sobreviver pois estamos em colapso", publicou a médica.
"Qual o sentido de tamanha desumanidade? Falta de empatia? Acham ainda que é política? Eu como médica posso dizer não tem nada de política. Temos jovens saudáveis morrendo, idosos sem comorbidades morrendo ou sobrevivendo, a Covid é uma roleta russa, não vamos saber quem é a próxima vítima", continuou Ana Carolina na postagem.
A taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid é um dos indicadores utilizados pelo Plano São Paulo para determinar as regras de flexibilização da quarentena. Nesta sexta-feira (8), o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Marília foi rebaixado para a fase laranja do plano, depois de passar meses seguindo a fase amarela.
Nesta segunda-feira (11), Marília registrou mais duas mortes por coronavírus, de uma mulher de 53 anos e de um idoso de 77 anos. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura, o município soma 9.348 casos de Covid e 122 mortes.
"Eu particularmente estou esgotada, física e emocionalmente. A maioria nunca terá a sensação de dizer para uma mãe que seu jovem filho acabou de falecer por Covid em pleno Natal ou dizer para uma esposa que o pai de seus filhos está indo para UTI para ser entubado. É triste, frustrante, as lágrimas escorrem em cada notícia ou ligação", completou Ana Carolina.