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Dia de Médico

COLUNISTA - José Benjamin

José Benjamim

  • 18/10/18
  • 18:00
  • Atualizado há 284 semanas

Todo dia é dia de médico. Mas 18 de outubro é o dia do médico. Sem dúvida nenhuma a medicina é uma das mais relevantes profissões humanas, justificando que o bom profissional

médico seja merecedor das homenagens de toda a sociedade. Mas, para além das homenagens protocolares, será que o médico brasileiro tem sido valorizado e reconhecido, como merece a relevância de sua profissão?

Nos hospitais públicos e filantrópicos, submetidos a uma canhestra "SUSsialização" da saúde

(versão claudicante do que poderia ser uma efetiva e consistente socialização), trabalham sem

a menor condição de poderem prestar um serviço de boa qualidade: faltam auxiliares, faltam



equipamentos, faltam remédios e insumos, sobram pacientes e dificuldades, sem falar na remuneração alvitante. Na medicina pública (e a maior parte dos médicos não pode prescindir

dela) esses profissionais são os maiores bodes expiatórios das falhas do sistema. Muitas vezes

a população cobra deles responsabilidades que não são suas.

Na medicina privada, os planos de saúde gastam fortunas com exames, materiais cirúrgicos e

equipamentos, mas quando chega na hora de remunerar o médico pelas consultas e cirurgias,

os pagamentos são ridiculamente baixos. O custo da medicina é, sem dúvida, muito alto. Mas

não é o serviço profissional do médico o maior responsável por essa realidade. Muita água

corre por debaixo de pontes e próteses, entre o custo exorbitante da medicina e a baixa

remuneração média dos profissionais médicos...

Enquanto os hospitais de ponta exibem seus novos ricos e famosos e seus equipamentos de

primeiro mundo..., os hospitais públicos escancaram suas mazelas, e os filantrópicos se afogam

em dívidas, o governo autoriza mais e mais cursos de medicina, muitos de duvidosa qualidade,

jogando para a população a ideia equivocada de que a ineficiência dos serviços médicos, bem

como seus exagerados custos, se devem à falta de médicos.

Para piorar as coisas, a população, cada vez mais consciente quanto aos seus direitos (embora

essa "consciência" seja, não poucas vezes, produto de uma visão distorcida e incorreta da

realidade médica), exige cada vez mais do médico, atribuindo qualquer insucesso a erro ou

negligência do profissional. Em razão disso, avolumam-se ações judiciais contra médicos e

hospitais, muitas vezes sem fundamento idôneo. Apesar do volume alto de improcedência

dessas ações, acabam trazendo a esses profissionais muitos dissabores, morais e financeiros,

mesmo quando inocentados.

É claro, não se pode ser condescendente. O médico lida com a saúde e a vida humanas e não

pode deixar de ser criterioso, competente e diligente. Não pode nem deve errar, embora às

vezes errem, como todos os seres humanos. Mas há erros escusáveis e outros indesculpáveis.

Também há médicos, não muitos, entretanto, sem nenhuma sensibilidade para a dimensão

social e humana de sua atividade. Encastelam-se no narcisismo egoísta e nada enxergam além

da própria vaidade e ganância.

Por isso, o mau médico deve ser sempre penalizado. Mas é ruim que se exija dos médicos uma

perfeição que não podem dar, num contexto em que dispõem de poucos recursos e numa área da atividade humana em que há muito de imponderável e imprevisível e muitas variáveis

interferem no resultado do tratamento.

A judicialização generalizada da atividade médica tem um efeito perverso, socialmente muito danoso: acaba estimulando esses profissionais, por instinto de autoproteção, a optarem pelo exercício limitado e defensivo de sua profissão. Em breve não se encontrarão facilmente médicos que aceitem tratar de casos complicados e de alto risco, pelo temor de acabarem envolvidos numa disputa judicial em que podem ser injustiçados.

Que o dia do médico seja uma oportunidade para uma reflexão lúcida e tanto que possível

desapaixonada sobre as reais dificuldades atuais para o bom exercício dessa tão importante

profissão.

José Benjamin - [email protected]

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