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Por que Sociologia e Filosofia incomodam tanto Bolsonaro?

COLUNISTA - Rafael Andrade

Rafael Andrade - Sociólogo e Mestrando em Ciências Sociais

  • 07/05/19
  • 18:00
  • Atualizado há 258 semanas

Jair Bolsonaro já mostrou que não sabe nada de economia, tampouco de educação. Mas se mostrou um verdadeiro protofascista, a rigor, Jair Bolsonaro cumpre a cartilha do fascismo de cercear o pensamento livre e crítico, mais que isso, Bolsonaro e o novo ministro da educação, diga-se de passagem, um operador do mercado financeiro - Abraham Weintraub, cujo desempenho acadêmico deixa a desejar, segundo fotos postadas de seu histórico acadêmico na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - querem censurar os tais "inimigos" do governo, ou seja, censurar qualquer tipo de oposição ao seu desgoverno. Isso se chama perseguição política, pura e simples, deu para perceber que a ignorância é marca registrada do atual governo!

As três universidades que sofreram esse primeiro ataque de redução de 30% no repasse de verba, cerca de 2,5 bilhões: UFBA, UNB e UFF, estão entre as melhores universidades do mundo, e seu desempenho tem subido a cada ano, são produtoras de conhecimento e pesquisa de ponta em todas as áreas. Segundo o nosso presidente FAKE NEWS Bolsonaro, as universidades públicas não são produtoras de pesquisa, mas de balbúrdia nas palavras do Ministro, e as produtoras de pesquisa seriam na verdade, as universidades privadas. O Brasil está entre os 15 maiores países produtor de pesquisas no mundo, há de se destacar que USP, UNESP e UNICAMP são responsáveis por mais de 1/3 das pesquisas brasileiras, ao contrário do que o fake news/twitero Bolsonaro diz, as 93 universidades particulares ranqueadas do país produzem pouca, ou, quase nenhuma pesquisa.

A Filosofia e a Sociologia tornaram-se o novo alvo do desgoverno de Bolsonaro, o bode expiatório para culpar sua incompetência. Se o clã Bolsonaro, ou "guro/filósofo/astrólogo" Olavo de Carvalho e seus indicados ao governo - Abraham Weintraub - vivem em um delírio de que a universidade é regida pela hegemonia de pensamento marxista, devemos lembrar que não é preciso citar Marx, Lenin, Gramsci, Lukács, Focault, Marcuse ou Adorno para propiciar o pensamento crítico filosófico e a oposição contra o autoritarismo e a censura bolsonarista.

Basta que um aluno universitário ou secundarista abra um livro de John Locke o "pai do liberalismo" e terá uma grande surpresa:

§ 199 "a tirania também é o exercício do poder sobre o direito legítimo de outra pessoa.

E isso significa usar o poder que alguém tem em mãos, não para o bem dos submissos a ele, mas em benefício próprio. Quando o governante, mesmo legítimo, não governa de acordo com a lei, mas segundo sua vontade; e suas ordens e seus atos não visam à preservação das propriedades do povo que o elegeu, mas em vez disso, à satisfação de sua própria ambição, vingança, cobiça ou qualquer outro desejo irregular."

§ 202 "quando um homem, investido de autoridade, excede o poder que recebeu por lei,

e faz uso de sua força para atingir o povo indevidamente, ele deixa de ser um

magistrado;

§ 240 "o povo deve julgar; (...) por isso possui o poder de destituí-lo"

Basta abrir os livros de filosofia e encontrará o legado de resistência contra o desgoverno de Bolsonaro e verá que a desobediência civil é o recurso para salvar o povo. Como bem salienta Safatle em coluna da Folha publicada hoje: "a história da filosofia é um grande combate contra aquilo que tentam fazer com a sociedade brasileira. A única maneira de parar esse combate seria, exatamente, eliminando-nos, como este governo sonha fazer."

Dessa maneira a filosofia e a sociologia têm como papel arrancar as "flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte os grilhões desprovidos de fantasias ou consolo, mas para que se desvencilhe deles e a flor viva desabroche". Desenganar o homem "a fim de que ele pense, aja, configure a sua realidade como homem desenganado, que chegou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol." Uma citação de Marx para causar um pouco de pânico nos bolsonarista.

Nós professores e pesquisadores de ciências humanas estaremos na resistência contra os ataques e a censura do desgoverno de Bolsonaro. As ideias não podem ser apagadas pela força da estupidez, ou pela força da opressão, os ideais de uma sociedade justa ainda vivem e hão de viver enquanto estivermos em uma sociedade desigual, racista, misógina, homofóbica e injusta. A superação dessa condição perpassa por todo legado científico-filosófico que a humanidade foi capaz de construir.

Se mesmo assim, caro leitor, não entender a importância das ciências humanas no desenvolvimento político, econômico e social, proponho que se matricule no curso on-line via whatsapp de fake news da Faculdade dos laranjas milicianos, quem sabe lá encontre o que procura.

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