Buscar no site

Um pedido de Natal

COLUNISTA - Kallil Dib

Kallil Dib

  • 06/12/19
  • 18:00
  • Atualizado há 228 semanas

Pediram para alunos de uma escola municipal escreverem cartas ao Papai Noel. Todo fim de

ano os educadores insistem nessa ideia. Os estudantes do 4º ano, lá com seus nove ou dez de

idade, já não acreditam tanto assim no bom velhinho. A infância de hoje mudou.

Mas os professores, capazes de alimentar sonhos, preservam o folclore da relação entre os pequenos e o senhor de barbas brancas, que aparece no dia 25 de dezembro voando com seu

trenó, distribuindo presentes às crianças que se comportaram conforme manda a cartilha de

um bom cidadão.

Certas crianças, mais levadas, riem durante a atividade e não se interessam muito pela folha

em branco e lápis coloridos. Outras ficam esperançosas: acham que podem ganhar mesmo

aquilo que desenharam. São bonecos, bonecas, games, bolas, bicicletas e tudo mais que deve

caber em um saco de presentes.

Um menino acanhado, que senta no fundo da sala, que não tem amigos e muito menos

brinquedos, chora ao escrever ao Papai Noel. A cena chama a atenção dos educadores, que

resolvem esperar a atividade terminar para saber o que tanto emocionava o garoto.

O sino da escola toca e é hora de ir embora. Os pequenos, apressados, levantam, entregam as

cartas e correm para o almoço. Alguns papeis endereçados ao Papai Noel ficaram em branco,

outros bem amassados. O menino que chorava ainda não se levantou. Dobra com carinho sua

cartinha antes de entregá-la à esperança e vai, sem pressa, para sua rotina.

Juntos, três professores curiosos e preocupados abrem a carta do menino e começam a ler

aqueles garranchos. Se surpreendem a cada frase. Entendem o choro. Ficam pasmos por não

terem percebido nada durante o ano. Se arrependem pela nota baixa, pela falta de atenção. Se

desesperam pela realidade.

Na carta aquela criança não pedia nada de brinquedos, como seus colegas de classe fizeram.

Era na verdade o relato da agonia, um pedido de ajuda.

Um dos trechos, dizia assim: "Quero apenas um emprego à minha mãe, uma cura ao meu pai,

um tratamento a meu irmão. Quero um lar sem goteira para morar. Um amigo para brincar.

Um chinelo, uma roupa. Quero que o senhor realmente me visite e traga o que pedi. Quero

que não jogue fora essa carta, como fez no ano passado".

O sentimento de impotência tomou conta daquela escola. Ninguém ali sabia mais o que pedir

ao bom velhinho.

Receba nossas notícias em primeira mão!