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O fardo da escrita

COLUNISTA - Gustavo Castanhas

Gustavo Castanhas

  • 11/02/20
  • 17:00
  • Atualizado há 215 semanas

Nunca em minha pacata vida de escritor presenciei coisa mais linda e magnífica do que aquele céu carregado de estrelas no dia em que saí para passear. Sua vista sempre me fizera divagar sobre questões de minha própria existência, entretanto, nesse dia em especial parei para observá-lo com mais cautela, precisava escrever alguma coisa e, apreciando cada detalhe com todo cuidado do mundo, busquei nas estrelas algo para transcrever em meu caderno. Em meio a todo cosmo que nos rodeia deveria existir algo que pudesse me inspirar, fosse a vastidão do espaço ou sobre como a luz da lua era capaz de adormecer o mais desperto dos homens, como se possuísse algo mágico em sua imagem.

Pudesse eu, caro leitor, absorver toda a magia de tal paisagem assim como Van Gogh fez em seu ápice de loucura ou lucidez, seria capaz de dar a ponta de minha orelha se isso me fizesse escrever tão bem quanto Machado, Aluísio de Azevedo ou Drummond.

Vejo ao longe uma estrela se destacar, seria ela minha tão esperada inspiração? Em seu brilho que há anos luz pode estar extinto, imagino o quanto de histórias ela não presenciou desde seu nascimento, como o homem cruzar o oceano pela primeira vez ou sobrevoar os cumes mais altos em seus aviões, e mesmo possuindo diversas histórias maravilhosas para nos contar permanece imóvel em seu lugar, pois viu também o homem cometer atrocidades com seus semelhantes. E após de deixar de existir, sua luz continua radiante em nossos céus, pois ela é feita de histórias e histórias nunca morrem, apenas esperam para ver quem será perspicaz o suficiente para tirar de si os maiores frutos.



Este é o fardo do escritor, estar sempre atento a tudo que o rodeia, vendo beleza e inspiração onde agora jaz apenas ruínas, e passar para frente o conhecimento daqueles que não estão entre nós, é como mantém a humanidade viva e quem sabe um dia trazer de volta a esperança de que dias melhores virão depois da tempestade.

Deixo aqui uma nota, assim como a luz da estrela, quando eu morrer minhas palavras sobreviverão ao tempo e delas serão retiradas muitas outras histórias, assim espero.

P.S: Talvez esse seja o motivo de dizermos que após a morte nos tornamos estrelas, somos feitos de contos, experiências e momentos, no fundo somos imortais.

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