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A queda de Trump e o autoritarismo no Brasil

COLUNISTA - Professor Elielton

Professor Elielton

  • 11/11/20
  • 17:00
  • Atualizado há 176 semanas

Ao longo da década o mundo assistiu à ascensão conservadora. Temas que não estavam sob os holofotes se tornaram o centro dos debates. Assistimos à longas discussões sobre religião, sexualidade, formação de família, imigração, moralidade, entre outros. Neoliberais na economia e conservadores nos costumes ganharam espaço. Faz parte do jogo democrático.

Mas, rapidamente, o fenômeno abriu caminho para radicais autoritários, que, eleitos, governaram de maneira autocrática com ações direcionadas apenas a seus apoiadores. O maior representante desse autoritarismo é Donald Trump.

Ressaltamos que não existe hierarquização cultural. Os grupos sociais possuem diferentes valores que não podem ser classificados de maneira qualitativa. O objetivo dessa análise é refletir sobre o comportamento autoritário de líderes que desprezam o multiculturalismo.

O presidente americano ganhou notoriedade política com declarações extremistas, exercendo o modelo de dominação carismática, o qual leva seus seguidores a acreditarem que seu "líder" possui habilidades especiais que irão solucionar os problemas imediatamente.

Donald Trump entrou em rota de colisão com diversos países. Tomou decisões de forma intransigente e gerou terríveis consequências.

O discurso preconceituoso, agressivo e mentiroso do bilionário Trump contagiou diversos políticos do planeta, principalmente do baixo clero, levando-os a imitá-lo e a ganhar projeção em seus países.

Esse comportamento também deu voz ao setor da sociedade que é contrário à modificações, à movimentos sociais que objetivam mudanças, aos direitos trabalhistas, ao feminismo, ao combate às desigualdades e aos que acreditam no mito da meritocracia.

Ainda assim, Trump poderia ter vencido nas urnas, não fosse seu comportamento irresponsável e negacionista frente à pandemia do COVID-19. Duvidou e disparou inúmeras acusações sem provas. Hoje, os EUA, a terra da oportunidade, são os recordistas em mortos pelo vírus. Também foi indiferente em relação ao racismo. Em 2020 assistimos a um dos maiores movimentos contra a violência racial da história. Donald Trump ignorou.

O autoritarismo dividiu a sociedade. No Brasil, a Constituição de 1988, apelidada de cidadã, sofre constantes ataques. Os três poderes idealizados por Montesquieu, que em tese devem ser equipotenciais, recebem ataques daqueles que juraram respeitar a carta magna.

O discurso autocrático de Trump encontrou inúmeros adeptos brasileiros. Ao longo de séculos, o país foi organizado de maneira patriarcal, com o poder centrado nos homens e a sociedade hierarquizada de acordo com a idade. Os senhores de engenho e, posteriormente, os coronéis, eram a própria lei.

Para as mulheres era reservado o espaço privado, sem o direito ao voto e participação na vida pública. Nossa abolição dos escravos não garantiu inclusão social e a ditadura civil-militar de 1964 não representou uma ruptura. Esse histórico apresenta reflexos em nossa atual sociedade autoritária.

A imagem do homem provedor foi incorporada por muitos. De maneira populista, líderes assumem a postura paternalista, protetora e buscam associar sua imagem à masculinidade. Economia, Educação, Saúde e Infraestrutura ficam em segundo plano para esse tipo de eleitor seduzido pelo autoritário. Todavia, são inúmeros os exemplos de arbitrários que fracassaram em pouco tempo.

Em suma, não podemos nos iludir com Joe Biden, o Tio Sam continuará imperialista. Mas, como já sinalizou, adotará um discurso mais inclusivo para os grupos sociais. Caso esse discurso se torne realidade e medidas efetivas sejam tomadas, essa postura poderá refletir no comportamento não apenas do Brasil como de todo o planeta.

A queda de Donald Trump não significa o fim do período radical. Ele recebeu expressivo número de votos. Porém, essa é mais uma experiência histórica que nos mostra que o autoritarismo está condenado a autofagia.

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