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Mulheres e a luta por respeito

COLUNISTA - Bruna Fernandes Barreto

Bruna Barreto Fernandes

  • 17/09/22
  • 12:00
  • Atualizado há 79 semanas

Pense em alguma situação onde você não teve o respeito desejado.

Doeu? Magoou? Revoltou?

Recentemente, tivemos em nosso país dois casos de grande repercussão, que afetaram duas profissionais de jornalismo.

No feriado de 7 de setembro, Jessica Dias, repórter da ESPN, foi beijada no rosto por um homem, torcedor do Flamengo, enquanto fazia uma transmissão ao vivo nos arredores do estádio do Maracanã, minutos antes do jogo entre a equipe carioca e o argentino Velez Sarsfield pela semifinal da Copa Libertadores da América.

Preso logo em seguida, Marcelo Benevides Silva, que é oficial de justiça, declarou ter dado um "beijo fraternal'' em Jessica, por "admirar o trabalho da profissional". Testemunhas relataram que, momentos antes da transmissão, o acusado havia assediado a repórter de inúmeras maneiras. A conduta foi enquadrada como importunação sexual, crime inafiançável, com pena de um a cinco anos de prisão.

Divulgação - Bruna Barreto Fernandes - Foto: Divulgação
Bruna Barreto Fernandes - Foto: Divulgação

Já no dia 13 de setembro, após do término do debate para o Governo de São Paulo, realizado entre TV Cultura, UOL e Folha, a jornalista Vera Magalhães, apresentadora do evento, foi atacada verbalmente pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos), candidato a deputado federal nas próximas eleições.

Ele afirmou que Vera é "uma vergonha para o jornalismo" e questionou o valor do seu contrato de trabalho. O deputado, que fazia parte da comitiva do ex-ministro e candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi expulso do auditório.

No dia seguinte, Douglas, que se tornou alvo de um pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar, publicou vídeo em suas redes sociais, em que pediu desculpas ao candidato Tarcísio sem, entretanto, demonstrar arrependimento com as agressões à jornalista. Também afirmou ter registrado boletim de ocorrência contra Vera.

Tais casos são uma demonstração de que nossa sociedade está na UTI.

Sou mulher e jornalista, sinto repulsa e me solidarizo com minhas colegas de profissão.

Diariamente enfrentamos desafios. Somos assediadas, às vezes sexualmente, frequentemente acusadas de feministas, de forma pejorativa e, em situações de liderança ou chefia, muitas vezes diminuídas. Quase sempre, apenas por sermos mulheres.

A milenar estimatização do sexo frágil.

Você, leitora, já foi desrespeitada? Uma cantada, uma insinuação qualquer ou difamação. Como seria ser beijada sem consentimento por um desconhecido, ou xingada por alguém apenas por uma suposta divergência de opinião? No ambiente de trabalho?

Vale ressaltar que, nas situações que citei, os agressores eram pessoas esclarecidas, funcionários do Poder Público, o que torna suas atitudes ainda mais repulsivas.

Não há justificativas ou motivos para ataques a mulheres. Violência física, verbal, sexual ou psíquica são males que devem ser denunciados, combatidos, julgados e condenados com todo o rigor da lei.

Chega de impunidade.

Escrevo estas palavras em nome de todas as mulheres que sofrem assédio todos os dias. Em especial, àquelas que sofrem de forma invisível. Um grito de basta. Somos milhões de vozes que podem e devem levantar-se pelo respeito.

Respeito a todos. Não apenas às mulheres. Respeito ao ser humano.

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