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Triste dia de outono

COLUNISTA - Kallil Dib

Kallil Dib

  • 12/05/20
  • 18:00
  • Atualizado há 202 semanas

Quem me conhece sabe: eu sempre procuro, primeiro, ver o lado bom das coisas. Quando me acontece alguma fatalidade, me acomete o medo ou me intriga a realidade, eu sento, converso com meu Deus e reflito, reflito, reflito... até encontrar um caminho que seja ao menos próspero e distante da calamidade que impera. Essa maneira de pensar e agir me faz encarar dificuldades tão difíceis que talvez eu não conseguiria enfrentar de outra maneira.

Já faço isso há algum tempo. Costumo guardar sentimentos. Não exteriorizo minhas dores, não choro para não fazer ninguém chorar. Guardo minhas mágoas e preocupações e procuro perdoá-las enquanto elas não me fazem mal.

Costumo demonstrar, com franqueza, um sorriso no rosto para aqueles que me querem bem. Amigos sinceros de longa data, colegas que nos aconselham como a alguém próximo e familiares que nos conhecem como a si mesmos. Estes ganham minha eterna felicidade. Tem dias que tudo parece ao contrário. Naquele, o sol nem quis aparecer: surgiu por algumas horas e logo se deitou novamente. O café ficou tão fraco que parecia me avisar. O coração já estava apertado antes mesmo de conhecer o seu luto. Era um dia para não ser.



Eu não queria, mas preciso escrever sobre isto.

A escrita, já há algum tempo, faz parte dos meus preceitos. Muitas vezes é a principal (e nesse caso a única), maneira de eu tirar do meu peito palavras que eu queria gritar pro mundo. Isso começou ainda na adolescência, lá pros 15, quando um papel de pão se transformava em um diário.

Hoje, atendendo a uma obrigação profissional, eu deveria escrever uma crônica para publicação nos periódicos costumeiros. Resolvi terminar essa aqui, que comecei a anotar há uma semana, naquele triste dia de outono.

Jamais me faltaram palavras. Sou até um bom conselheiro, ofereço sempre um ombro amigo, um lugar aconchegante para o pranto de alguém. Não vejo problemas em afagar lágrimas, sinto-me especial, um útil servo. Mas naquela manhã eu não fui uma boa companhia. Não encontrei qualquer expressão de alívio.

Agora os pensamentos já estão alinhados.

Já procurei e encontrei um propósito, conversei com Deus, do meu jeito, e ele me acalmou: me deu a paciência e a serenidade que naquela hora eu perdi. Apenas quem já passou por um momento deste, sabe o quanto é difícil superá-lo. Preciso continuar. Seja lá qual for a minha tristeza, muita gente precisa da minha alegria.

Era um pequenino coração...

Que parou de bater num triste dia de outono.

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