Mulher luta para recuperar visão após tortura de ex, em Marília

A autônoma Maria Cleidiane Sacramento dos Anjos, de 25 anos, atualmente vive escondida e com medo em algum lugar de Marília com as duas filhas de 11 e 9 anos.

Ela foi cegada pelo ex-amásio de 35 anos, acusado de torturá-la física e psicologicamente durante seis meses.

De acordo com informação da Polícia Civil, o acusado chegou a ser preso em outubro do ano passado, mas foi solto dias depois por pedido da própria vítima, que retirou a queixa .

Após meses de sofrimento e angústia sem enxergar e com grandes chances de perder os olhos definitivamente, na semana passada Maria recebeu doação de córneas e volta a ter esperanças de poder ver normalmente um dia.

No entanto, ela segue com medo de seu algoz "impune e solto". Além disso, "às vezes bate um desespero por não poder contemplar a face da minha filha", diz a mulher que precisa de ajuda "para tudo" agora.

A informação da DDM (Delegacia da Defesa da Mulher) é que o inquérito já foi enviado ao Ministério Público, que deve denunciar o homem em breve.

Vários boletins de ocorrência foram feitos - a princípio por funcionários dos hospitais por onde Maria passou com os olhos perfurados, já que ela se negava a representar criminalmente.

"Ele dizia que mataria eu e minhas filhas", explica a mulher, que também chegou a perdoar o acusado acreditando que "ele poderia mudar".

História

Maria conheceu Robert em Marília há cinco anos, depois de morar algum tempo em Lisboa, Portugal. Eles passaram a morar juntos. Os problemas começaram quando em duas ocasiões, no ano passado, ela encontrou pinos de cocaína no apartamento onde residiam.

Em uma dessas situações o acusado teria quebrado toda a casa e esfaqueado os braços de sua companheira "tentando acertar o peito". Mesmo assim, o agressor foi perdoado.

Na segunda vez em que os pinos de cocaína foram encontrados, em setembro, Maria conta que tentou colocar Robert para fora de casa, mas ele teria dado uma cabeçada nela, que acabou perfurando os dois olhos. O homem acusava Maria de traição.

Policiais ouvidos pela reportagem acreditam que as perfurações possam ter sido feitas de outro jeito, já que a história não tinha muito sentido. Robert também teria impedido que ela procurasse ajuda médica, o que agravou seu quadro de saúde.

De acordo com a vítima, o ex-companheiro já ficou preso enquanto morou no Japão, "por envolvimento com a máfia japonesa".

Um amigo de Maria descobriu tudo e procurou um médico com ela. Sem ter "ninguém na cidade", ela continuou vivendo com o acusado que ficou responsável por pingar o colírio em seus olhos.

Maria teve várias complicações durante o tratamento porque continuou sendo agredida. Com a ajuda de amigos, há pouco mais de um mês ela saiu do convívio com o agressor e aguarda a aceitação da córnea e o avanço no tratamento.

DDM

Na DDM a informação é que o trabalho da Polícia Civil foi feito e que as investigações foram tocadas mesmo com os pedidos de Maria para que as representações criminais fossem retiradas. A determinação consta na lei Maria da Penha.

Também teriam sido oferecidas medidas protetivas, que Maria não aceitou por medo, de acordo com ela.

Na delegacia da mulher, a informação é que foram feitos vários deslocamentos de equipes para atender as ocorrências envolvendo o caso, a investigação foi feita, testemunhas ouvidas e laudos emitidos, além de uma prisão em flagrante.

Robert pode ser novamente preso com uma decisão judicial ou caso seja detido em flagrante novamente.

Maria dos Anjos após receber nova córnea (Foto: Arquivo Pessoal)

Olhos de Maria dos Anjos quando ela foi agredida