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Memórias da Estação: a saudade de quem trabalhou na antiga Sorocabana em Assis

Nelson Rezende da Silva tem atualmente 74 anos e durante 31 anos de sua vida foi funcionário da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana, em Assis

Redação AssisCity/ Fotos: Memória Fotográfica Assisense

  • 20/01/19
  • 07:00
  • Atualizado há 274 semanas

A Companhia Estrada de Ferro Sorocabana (ESF) foi fundada no dia 2 de fevereiro de 1870 por um grupo de empresários sorocabanos, liderados pelo comerciante de algodão Luís Mateus Maylasky.

O primeiro trecho foi inaugurado no dia 10 de julho de 1875 e, a partir disso, a expansão seguiu por diversas partes do território brasileiro, até meados de 1922, quando atingiu Presidente Epitácio, às margens do Rio Paraná.

Os trilhos da famosa EFS chegaram à pequena Assis quando as regiões cafeeiras ganharam o cenário da economia e os vagões eram importantes para o escoamento da produção. Em 1971, a ferrovia Sorocabana mudou de nome, após ser uma das que formaram a estatal Ferrovia Paulista S.A, mais conhecida como FEPASA.

Mas para além dos fatos políticos e econômicos, a estação ferroviária guarda muitas recordações e memórias afetivas de seus passageiros e ex-funcionários, que percorriam os trilhos dos trens com a mesma naturalidade com que hoje percorremos ruas e avenidas.

O senhor Nelson Rezende da Silva tem atualmente 74 anos e durante 31 anos de sua vida foi funcionário da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Ele trabalhava no chamado Posto de Revisão de Vagões, uma oficina para manutenção.

"Eu trabalhei em Assis e era um dos funcionários que fazia a revisão dos vagões. Naquela época, cada vagão deveria ser revisado pelo menos uma vez por ano, obrigatoriamente. Também iam para a oficina aqueles que tinham qualquer problema ou avaria, mas eles eram bastante conservados de maneira geral. Não tinha algo específico que quebrava mais ou menos, porque dependia do vagão. Às vezes dava problema de rodagem, no friso, no rodeiro, variava. Mas um item obrigatório que a gente sempre conferia eram os frisos, que tinham que ter certa medida para rodarem sem riscos", conta.

Nelson conta que começou a trabalhar na ferrovia aos 18 anos, mas aos 16 ele iniciou o Curso de Formação de Transportes, onde atualmente fica localizada na Escola de Música. Tratava-se de um preparatório para que os funcionários pudessem assumir seus cargos.

"Quando comecei, éramos em mais ou menos 60 funcionários. Os cursos tinham duas opções: de mecânica ou para serviços de estação, como trabalhar no guichê, telégrafo e na plataforma. Durante a época de final de ano tudo era muito festivo no meio ferroviário, porque sempre reuníamos as repartições, fazíamos uma festinha entre os ferroviários e os familiares, e às vezes saía até um torneio de futebol. Hoje em dia, os ex-companheiros que ainda estão vivos já estão muito de idade, às vezes doente, e é duro sair de casa. Mas existia uma união muito forte entre nós e as memórias são bastante vivas ainda", frisa.

Nascido em Botucatu, Nelson veio para Assis aos 15 anos. Filho de maquinista, seu pai foi transferido e a mudança da família também chegou à nova cidade de trem.

"Naquele tempo, a gente veio de trem para Assis e trouxemos a mudança no trem também. Arrumaram um vagão para a gente, onde colocamos a mudança, e descarregamos tudo no pátio para depois ocuparmos nossa casa na Vila Operária, onde outras famílias de funcionários da Sorocabana também moravam. Também tinha dois tios ferroviários, que moravam em São Paulo e em Botucatu. Meu filho também é ferroviário e trabalha atualmente em Ourinhos. Acredito que a ferrovia foi algo que marcou nossa família", salienta.

"Uma das memórias que tenho era o telefone e aparelhos que usávamos para comunicação dentro da ferrovia, chamado de seletivo. Ao longo da linha tinham postes ligados com fios e era como ocorria a comunicação entre as estações. Mesmo ao longo do trecho, os funcionários podiam ligar o seletivo em um desses postes e conversavam com a estação, especialmente em caso de algum problema. Era um aparelho grande, que ficava guardado em uma mochilinha, e também levávamos uma vara de emenda, como uma vara de pescar, para enganchar no fio lá em cima. Acho que esse talvez tenha sido o pai do celular que conhecemos hoje", diz humorado.

Com saudades daquela época, Nelson diz que esteve na reinauguração da Estação Ferroviária de Assis e gostou do que viu.

"Eu participei da cerimônia de reinauguração e foi muito bonito. A restauração do prédio ficou muito boa e inclusive pretendo tentar conseguir mais alguma peça antiga para colocar no museu. Deu uma emoção no coração, porque parecia que estava entrando no passado", conclui.

Estação Ferroviária guarda recordações e memórias afetivas de seus passageiros e ex-funcionários

Movimento era grande entre passageiros e funcionários

Movimento na Estação Ferroviária de Assis nos anos 1940

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