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A educação mendiga pão

  • 22/04/13
  • 14:00
  • Atualizado há 574 semanas

Luís Carlos Alves de Melo *

No decorrer da semana passada, o governo anunciou o que ele mesmo intitulou de "grande notícia" do dia, e que, segundo alguns meios de comunicação, seria a bomba do mês. A bem da verdade, realmente foi. Diante das senhoras e senhores que acompanhavam atentos, o anúncio via internet, rádio, televisão, cartomantes e afins, veio o anúncio: o polpudo aumento de 8% para os quadros escolares que compõe a educação. Diferentemente da ovação, flores e aplausos emocionados dos contemplados, o que se viu foram decepção, tristeza, revolta e vaias. Instantaneamente, a notícia se espalhou pela rede, dividindo opiniões e levantando uma questão sobre o porquê do descontentamento.

Antes de mais nada, faz-se importante que cada um saiba que, em 2011, durante uma reunião de polos regionais, o Governo anunciou, por meio da Secretaria de Educação, aumentos fracionados para as categorias educacionais, a fim de conter greves da categoria. Ocorre que, de acordo com a política de aumentos, o percentual que seria dado neste ano equivalia a 6%. Não se verifica aqui a necessidade de grandes matemáticos para entender que, de fato, os 8% anunciados são, na verdade, míseros 2%, corrigindo, 2,1% (não queremos ser injustos com o bom coração "governístico").

O atrás exposto não me parece algo que sirva para acalmar milhares de educadores, incluindo aqueles que, um mês atrás, foram chamados de incompetentes, embora não diretamente, por não terem alcançado as sinuosas metas do SARESP.

Evidentemente que, de certo modo, é espantoso como o nível educacional é tão alto em números, quando todos nós - e refiro-me a todo o mundo mesmo - sabe que temos uma série de analfabetos funcionais alicerçando boa parte desse índice. Mais espantoso ainda é acordarmos e descobrir que, na surdina da noite, políticos - e aqui me reporto aos altos escalões do congresso e afins - concedem-se grandes aumentos (justamente eles que não ganham pouco), e a população se cala. É compreensível que deve ser muito difícil sustentar famílias com miseráveis 10 ou 20 mil reais entre salários e verbas de gabinete, e que, por essa razão, precisam de aumentos, e, em alguns casos, até pegar emprestado sem ninguém saber é claro. Como dizíamos tudo isso é compreensível, mas podiam pelo menos devolver depois; mas, enfim....

Retomemos aqui o assunto foco da nossa comunicação:

Viva! Vem aumento por ai.... O conto de fadas está todo muito bem estruturado e tudo está muito lindo. Agora venhamos e convenhamos: espero que a classe que realmente está a favor da educação não se vanglorie com lobos vestidos de carneiros, ou seja, com esse conto de fadas chinfrim e bem arquitetado. Ora, já era de esperar que o governo anunciasse algo a fim de conter as greves, que por sinal são, com todo respeito, insossas, uma vez que não há abrangência em sua totalidade, mercê de alguns que se contentam com migalhas. Verdade seja dita, só estamos nessa situação porque a classe é extremamente desunida e se ludibria com bijuterias, em disfarce de ouro. E só para completar: em navio de capitão ligeiro, quem afunda é marujo.

No que toca aos senhores especuladores, abro um parêntese especial: os atos grevistas estão muito além desse ou daquele interesse político, uma vez que são direitos constitucionalmente reconhecidos e se arrastam por vários anos. Aconselharia cada um a refletir sobre como toda essa situação influencia direta e negativamente, em relação aos seus filhos. Não critiquem os educadores por reivindicar os seus direitos, já que, tempos atrás, vivemos épocas ditatoriais e todos sabemos como é não ter direito de voz. Nenhum educador, afirmo, perde três, quatro ou cinco anos de sua vida nos bancos das universidades para posteriormente perturbar. Eles estudam para dar aos filhos do Brasil, muitas vezes a educação, que não recebem em casa.

Portanto, seria interessante que cada um retirasse as orelhas muares que estão sobre suas próprias cabeças e os narizes clownescos, com vistas a observar que, enquanto criticam professores por quererem aumentos significativos, seu sacrificado dinheiro está servindo para pagar os luxos de deputados, senadores e afins; isso quando não servem como caixa dois de redutos "mensalísticos".

* Luis Carlos Alves de Melo, Licenciado em Letras - Faculdade da Alta Paulista - FAP (TUPÃ - SP), Brasil. Membro do GPARA - Grupo de Pesquisas em Argumentação e Retórica Aplicadas - Universidade Federal de Sergipe (SERGIPE - SE). Autor da pesquisa relacionada à Saliatu da Costa, jovem poetisa da Guiné-Bissau.

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