Mais uma tragédia anunciada?
COLUNISTA - Professor Thiago Hernandes
No último dia 31 de maio de 2021, em pleno auge da pandemia do Coronavírus no Brasil, data que o país registra mais de 460 mil mortos na mais letal crise sanitária brasileira já vivida, somos surpreendidos com a possibilidade do Brasil sediar a Copa América 2021.
Inicialmente planejada para ser realizada em conjunto entre Argentina e Colômbia, estes países declinaram de forma responsável de sediar o referido evento em razão do agravamento da pandemia em seus territórios nacionais.
Ante cenário de incertezas sobre o local que a CONMEBOL busca realizar o evento, o atual presidente do Brasil, senhor Jair Messias Bolsonaro, surpreende a população ao colocar o país à disposição para sediar a competição.
Mesmo sabendo que os jogos ocorrerão sem a presença de torcida, faz-se necessário considerar o fato de que, a exemplo de outras experiências, muito provavelmente ocorrerão aglomerações em dias de jogos, sobretudo em dias que a seleção brasileira jogar.
Além disso, há de ser considerado, como fator preocupante, a presença de pessoas de diferentes países - atletas, médicos, jornalistas, autoridades e afins - adentrando o território brasileiro num momento que o mundo registra com regularidade o surgimento de novas variantes do letal vírus.
Incrédulo e desconfortável frente a medida presidencial, pergunto:
Será que não faltou respeito com as pessoas que diariamente adoecem e perdem a vida e seus entes para a doença?
Será que não há outras prioridades para os gastos e ações públicas neste momento?
Aos empresários que apoiam tal evento, será que vale a pena terem suas marcas associadas num momento trágico como este?
Não é melhor gastar recursos, tempo e energia em compras de vacinas, bem como melhorias em infraestrutura hospitalar e ações preventiva e de fiscalização?
Minha indignação preciso registrar. Mais uma vez nossos gestores nos decepcionam!
Em plena "Guerra Biológica" fazer festa?
A questão em jogo nada tem a ver com partido ou patriotismo, mas sim com responsabilidade, coerência, seriedade, respeito e sensatez.
A morte que outrora se apresentava nos gélidos e distantes números, cada vez mais se ganha nomes e rostos, nos cercando de forma impiedosa, ceifando vidas, famílias, sonhos.
Assim sendo, enquanto acadêmico, cidadão brasileiro e sobretudo, ser humano exposto diariamente aos perigos que esta crise traz, exercer meu direito democrático de repúdio a tal postura e clamar que as pessoas e os demais poderes constituídos e representativos hajam com maturidade, responsabilidade, equilíbrio, para que os números, e por consequência a realidade, não venha a ser pior do que já está sendo projetada para os meses futuros.